No começo da década de 1980, a médica pediatra Zilda Arns Neuman recebeu uma incumbência do irmão, o cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns: coordenar um trabalho ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e ao Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) para a redução da mortalidade infantil no país, cujo índice, na época, era de 69,1 mortes de crianças até um ano de idade para cada mil nascidos vivos.
A iniciativa partiu do então diretor-executivo do Unicef, o norte-americano James P. Grant, que queria desenvolver um trabalho que não fosse ligado a nenhuma entidade governamental. Amigo de Dom Paulo, Grant perguntou quem seria capaz de coordenar o projeto no Brasil, e o cardeal logo pensou na irmã. Com a ajuda do hoje cardeal primaz de Salvador, Dom Geraldo Magela Agnello, que em 1983 era arcebispo de Londrina, Zilda desenvolveu um projeto-piloto no município de Florestópolis, no norte do Paraná, que detinha o pior índice de mortalidade infantil no país, 127 mortes a cada mil nascimentos (em dois anos, ela conseguir reduzir o índice de óbitos para 20 a cada mil vivos). Era o início de seu trabalho de 26 anos à frente da Pastoral da Criança, cuja primeira sede foi a sua própria residência em Curitiba, e hoje se transformou numa imensa rede social que acompanha mais de 1,9 milhão de crianças de zero a seis anos e 94 mil gestantes em mais de 4 mil municípios brasileiros. Em Santa Catarina, a Pastoral da Criança atua há 25 anos, e o primeiro município a abrigar a iniciativa foi Forquilhinha, a terra natal do clã formado pelos 14 filhos do casal Gabriel Arns e Helena Steiner Arns.
– Ela era a minha boneca, eu era oito anos mais velha e tomava conta dela – diz a irmã Hilda, a oitava do clã, sobre a caçula que decidiu ser médica mesmo contra a vontade do pai, que achava que a profissão não era adequada a moças.
– Ela fincou pé que queria ser pediatra. A mãe apoiou e o pai acabou aceitando. Depois ficou orgulhoso do trabalho dela – afirma Hilda, religiosa como as irmãs Maria Gabriela, Maria Helena e Anita e os irmãos Dom Paulo Evaristo e frei João Crisóstomo, coordenadora do Centro de Treinamento Regional da Pastoral da Criança, a Casa Mãe Helena, inaugurada em 2004 com a presença de Zilda e do cardeal.
Deixou Forquilhinha para estudar no PR
Zilda Arns morou em Forquilhinha até os 12 anos, quando foi estudar em Curitiba com os irmãos mais velhos, na casa que o pai, Gabriel, que largou a agricultura para se dedicar ao comércio e à política (chegou a ser candidato a prefeito de Criciúma), construiu para os filhos estudantes.
De acordo com a irmã Hilda, Zilda era uma moça que gostava de estar sempre bonita e arrumada, mas não a ponto de ser vaidosa.
– Ela sempre gostou de crianças. Lembro que aos domingos, quando as famílias iam assistir à missa em alemão, ela ficava tomando conta das crianças pequenas na escola da irmã Norberta, que ficava ao lado.
Zilda tinha perto de 50 anos e estava viúva havia pouco mais de cinco (seu marido, Aloísio Bruno Neumann, morreu afogado em Betaras, no litoral paranaense, em 1978), quando começou o trabalho da Pastoral da Criança. Nos últimos tempos, se dedicava à Pastoral do Idoso e à Pastoral da Criança Internacional, fundada em 2008 em Montevidéu e hoje presente em 27 países. E a médica catarinense estava, justamente, desenvolvendo o trabalho missioneiro de divulgar e ensinar as práticas da pastoral no Haiti, numa viagem adiada duas vezes no ano passado, quando morreu vítima do terremoto da última terça-feira.
Trabalho voluntário garante a ajuda
Zilda Arns sempre dizia que o mundo só vai melhorar quando a situação da criança melhorar. E o legado que ela deixa a todos os voluntários da Pastoral da Criança é continuar lutando pelas crianças.
– A semente que ela plantou, de amor e dedicação aos mais empobrecidos, isso vai permanecer – afirma Marly Aparecida Neto Rossi, professora aposentada que trabalha há mais de 20 anos na Pastoral da Criança e que há dois é a coordenadora estadual da organização comunitária criada pela médica catarinense.
De acordo com Marly, Zilda era uma mulher guerreira que doou a vida aos mais necessitados, e o resultado de sua dedicação pode ser observado na mudança da qualidade de vida da população que vive nos bolsões de pobreza dos municípios brasileiros atendidos pelo programa.
Em Santa Catarina, a Pastoral da Criança é dividida em 10 setores, que correspondem às dioceses de Blumenau, Caçador, Chapecó, Criciúma, Florianópolis, Joaçaba, Joinville, Lages, Rio do Sul e Tubarão.
Organizada em forma de rede, a pastoral catarinense conta com o trabalho voluntário de 3.978 líderes em 1.365 comunidades espalhadas por 168 municípios, cada um responsável pelo atendimento de até 15 crianças.
Pessoas que doam seu tempo em favor dos mais necessitados, como a professora e corretora imobiliária Neli Nagata Nobre, coordenadora da Pastoral de Florianópolis, que, após assistir à uma reportagem na televisão sobre o trabalho da doutora Zilda Arns, resolveu ingressar no voluntariado e acabou se tornando uma capacitadora.
Por: Dorva Rezende do diario.com
domingo, 17 de janeiro de 2010
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ZILDA ARNS FOI UMA GUERREIRA E UM EXEMPLO DE SOLIDARIEDADE PARA COM OS PEQUENINOS DO REINO
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